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Qual família nunca se preocupou com a alimentação de suas crianças?

No final do mês de agosto, dra Aline e dra Berenice participaram do VIII Simpósio Internacional de Alergia Alimentar e da X Jornada de Atualização em Nutrição Pediátrica promovido pelo Instituto Girassol na Cidade de São Paulo. Trazemos este artigo para compartilhar com vocês alguns assuntos abordados no evento.

Comer é um ato tão importante quanto respirar, mas, ao contrário deste, não é 100% automático. Comer para sobreviver é um ato automático nos recém nascidos que procuram o seio materno tanto na espécie humana quanto em outros mamíferos. Com o crescimento, comer se torna um hábito cultural, social e determinante de saúde ou doença, seja no momento presente ou em 30 anos. É um comportamento que precisa ser aprendido e treinado.

Cada vez mais nos deparamos com crianças que não comem bem por não ter apetite, porque comem seletivamente ou têm fobia alimentar ou porque suas família interpretam equivocadamente o que é “comer bem”. Sem falar nas crianças que comem demais.

Iniciativas como o programa The Family Dinner Project da Universidade e Harvard têm abordado como as famílias podem se organizar para tornar as refeições momentos de prazer e convívio familiar. O lema deste programa é: comida + diversão + diálogo. Estudos demonstram que as crianças que fazem as refeições em família e cujos pais têm hábitos alimentares saudáveis tendem a se alimentar de forma mais tranquila e equilibrada. Isto vem ao encontro do conceito de que as crianças aprendem copiando, o seja, se meu pai faz, eu vou fazer. Por que exigimos que as crianças comam verduras, legumes, sentem-se à mesa com educação, se às buscamos na escola com um saco de pão de queijo e ficamos respondendo e-mails e comendo rapidinho um pedaço de pizza em frente à televisão enquanto captamos as últimas noticias ou colocamos aquele seriado em dia?

Certo, a vida é corrida, temos que trabalhar, manter a casa, levar o cachorro no veterinário e ainda ir àquele jantar da confraria de vinho. Tudo bem, mas conforme um artigo publicado este ano na revista Chilhood Obesity pesquisando se as boas práticas durante as refeições estão associadas à melhora da ingestão de energia e de vegetais sugere que os seguintes passos são importantes para uma alimentação adequada:

– permitir que a criança se sirva sozinha (marco cognitivo e motor ao redor dos 3 anos)

– comer no mesmo momento e o mesmo cardápio da criança (lembrando que não é a criança que vai comer a pizza que você chamou e sim você que vai comer o arroz, feijão, carne e legumes. Não é a criança que vai beber seu refrigerante ou suco de caixinha durante a refeição e sim você que vai tomar água acompanhando seu filho naquilo que desejas que ele faça).

– conversar sobre alimentação saudável, informalmente, durante a refeição.

– encorajar a criança a provar novos alimentos sem coerção (“se você não comer o brócolis não vai ao aniversário do seu primo”)

– questionar sobre sinais de fome e saciedade antes de comer e de servir nova porção

Outra prática desencorajada nos estudos é a troca. Quantas vezes ao ver um prato rejeitado, você não pergunta: “o que você quer então? Leite, uma bolacha? Se você comer, vou lhe dar aquele chocolate que papai tem no armário”.

A criança tende a aceitar melhor um novo alimento quanto mais vezes for exposta a ele. Também devemos atentar para o modo e a temperatura de apresentação dos alimentos, combinados ou não com outros, temperados ou não. Isto pode ser crucial na facilitação do aceite dos pequenos.

Verifica-se que os pontos de maior aprovação das famílias e crianças submetidas a treinamento de educação nutricional são a participação das crianças no processo culinário (lugar de criança é na cozinha desde que supervisionada e respeitadas normas de segurança) e os testes de novas receitas.

Então, é tempo de olhar para nós mesmos e para nossos filhos e voltarmos para alguns comportamentos que vêm se perdendo ao longo dos anos, como, as refeições em família, buscando relacionar mais amor e diversão com as refeições.